Carta para o meu pai

Esse post nada tem a ver com política. Fala de saudade, de despedidas, do meu velho pai. Daqui a alguns dias completará três anos que ele se foi. A saudade parece aumentar a cada dia. Sempre falo para os meus amigos que por mais que a gente expresse todo amor que sentimos pelas pessoas que nos cercam, sempre que perdemos alguém fica aquela sensação de que poderíamos ter feito mais, conversado mais, ter dito mais vezes "eu te amo", "você é especial", "tô com saudades", porque depois, o que fica mesmo são as lembranças de momentos fraternos como esses que eu acabei de falar.

Pai

Setembro pra mim significa um mês de partidas e despedidas. Talvez seja por isso que tenho sentido tanta saudade nesses últimos dias. Quantas lembranças este mês me traz à memória.

Lembro do último abraço que te dei antes de vir pra Curitiba. Foi numa tarde de domingo de setembro. Ainda guardo vivo na memória o momento em que eu estava na porta do avião e meu celular tocou, era você com a voz embargada falando do seu orgulho por mim, me desejando sorte, mandando que eu fosse feliz e pedindo que eu nunca esquecesse do meu velho pai, como se isso fosse possível.Tentei ser forte pra não chorar, mas bastou você desligar pra eu me desfazer em lágrimas e chorar a viagem inteira. Acho que era medo. Não de recomeçar a minha vida longe de casa, mas de nunca mais te encontrar.Você já estava doente. Eu quase desistir da viagem e você falou pra mim: “minha filha, aconteça o que acontecer, a vida segue, por isso vá!”.

Passou um ano e a gente se reencontrou. Setembro.Mais uma despedida. Um longo abraço, olhos marejados e um “eu te amo, pai!”, seguido de um tímido “eu também”. Naquele momento senti que ainda nos reencontraríamos. Vieram as férias e passamos uma semana juntos. Longas conversas, muitas lembranças acompanhadas de risadas e lágrimas teimando em cair. Não era setembro, era fevereiro e mais uma despedida. Dessa vez, foi diferente: um longo abraço e um grande silêncio. Foi a última vez que nos encontramos...e parecia que nós dois sabíamos disso!

Depois nossas conversas foram só por telefone. Conversas cada vez mais raras porque você sempre se cansava e se emocionava ao falar. Era tão difícil pra mim e imagino que pra você também. Lembro que você atendia às minhas ligações eu falava “pai, sou eu!”. E você respondia ‘eu sei que é a minha filha do peito’, e toda orgulhosa mesmo sabendo que era mentira e que você falava isso pra todas, ou você pensou que eu não sabia que você falava a mesma coisa pra Meyta e pra Jéssica, essa sim a sua filha do peito e também do coração que batia dentro dele.

Como esquecer aquele primeiro de setembro você vindo em minha direção com os braços abertos falando ‘minha filha, eu vim me despedir, chegou a hora de partir’ e eu acordei chorando, sentindo o teu abraço. Assustada, liguei pra você e perguntei se estava tudo bem você respondeu que sim. Vinte e nove dias depois você partiu. Não tive a oportunidade de te dar o meu último adeus, por isso quero te agradecer por você ter se despedido de mim mesmo que em sonho. Isso me conforta, ajudar amenizar a saudade que sinto de você.

Pai, com a distância aprendi a importância de falar para as pessoas o quanto nós as amamos mesmo supondo que elas já saibam. E apesar de ter te falado tantas vezes que te amava, tenho a sensação que muitas palavras não foram ditas, por isso eu to escrevendo esta carta. Eu agradeço tudo que você fez por mim, sei que foi o seu melhor e que você sempre quis o meu bem. Desculpa se às vezes não te compreendi e fui mal-criada, resmunguei, não te ouvi. Nunca duvide do meu amor por você. Eu tenho muito orgulho de ter sido teu melhor presente de aniversário. Bom, isso é um segredo meu e seu. Eu continuo te amando assim...à distância.

Ah, sabe aquele último pedido que você me fez? Pois é, eu continuo tentando e quantos aos erros que cometi, espero que você me perdoe, de onde você estiver.

Saudades